domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Guerra ao terror" ou à estupidez humana?


Já vi há algumas semanas o filme "Guerra ao Terror", mas acabei esquecendo de escrever minhas impressões por aqui. No entanto, acho que vale a pena, mesmo que um pouco atrasada. Até porque como é um dos filmes com mais indicações ao Oscar 2010, ainda deve permanecer em cartaz por um tempinho.


“Guerra ao terror” possui uma estética muito peculiar e intrigante, que faz com que você se sinta parte presente e atuante dentro do cenário exposto durante as cenas. Não que isso seja novidade na história do cinema, mas a forma como foi realizada tal ambientação é bem original, causando bastante tensão ao espectador. É claro que o tema principal abordado durante o filme também contribui bastante para esse estado permanente de tensão, afinal não é todo dia que assistimos filmes baseados em um grupo de oficiais especialistas em encontrar e desarmar bombas em terras iraquianas.


Dentro desse contexto, o filme possui dois grandes trunfos. O uso bem orquestrado da câmera, que parece ser o próprio personagem ou passar a impressão que o personagem é o espectador, e a utilização dos efeitos sonoros de maneira muito inteligente, explorando sons ambientes que parecem mais vivos e reais, como a respiração ofegante do oficial especialista confinado dentro de uma roupa pesadíssima e prestes a tentar desarmar uma bomba que pode explodir a qualquer momento e levar pelos ares não só ele como boa parte dos seus companheiros e habitantes do local. A roupa utilizada inclusive lembra aquela dos astronautas da NASA.




O terrorismo é abordado através de sua face mais ácida e cruel, doa a quem doer. A cena onde aparece um menino que foi usado como "carcaça" para abrigar uma bomba-relógio, obrigando o especialista a abri-lo com as próprias mãos para retirar a bomba, é tão forte e real que fica difícil manter os olhos vidrados na tela sem ficar bestificado, lobotomizado. O fato desse especialista ter feito amizade logo no começo do filme com essa inocente criança da localidade torna ainda mais dilacerante a situação. Nitroglicerina pura.


Acho que já deu para perceber que por esses elementos e outros que prefiro não revelar para não quebrar o efeito surpresa do filme, vale muito a pena visitar o cinema no próximo fim de semana. Talvez nunca um filme conseguiu captar com tamanho realismo a falta de lógica extrema do terror e passar isso para o espectador com tanta precisão. Tenho certeza que no mínimo você terá alguns bons dias de reflexão sobre a estupidez humana em uma de suas maiores manifestações.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

São Lourenço: qual será seu “ingrediente secreto”?



São Lourenço. Quem me conhece um pouco que seja, sabe o que essa cidadezinha de duas palavras representa para mim. Minha segunda cidade natal, frequentada religiosamente todo ano desde que me entendo por gente. Tradição de família, passada de geração à geração. Talvez conheça mais a cidade do que alguns dos seus próprios habitantes. O lago, o parque, as ruas, os hotéis, cada um desses lugares guarda um pouquinho de mim, da minha vida. Ahh se eles pudessem falar... quantas histórias teriam para contar sobre mim. Infância, adolescência, fase adulta... Jogos, brincadeiras, decepções, amores, amigos eternos, confusões, segredos, marasmo, meditação e muita diversão.

Com tal histórico privilegiado acho que me sinto apta a contar para vocês um pouquinho de SL, não acham? São Lourenço é uma daquelas cidades estilo “ame ou odeie”. Não há meio termo. Muitos se apaixonam pela cidade, quase de forma mística e inexplicável, uma sensação tão boa é experimentada no lugar, que é impossível não querer repetir a dose de tempos em tempos. Outras pessoas já consideram a cidade entediante, digna de apenas uma visita e olhe lá. Afinal, como gostar daquela cidade de “água mineral, patos e velhos”?



Claro que me enquadro no primeiro grupo. O engraçado é que depois de tantas visitas, às vezes o estímulo para mais uma é muito pouco. No entanto, basta chegar lá para que o espírito ímpar da cidade, faça você mudar completamente de idéia. No final da viagem fica aquele gostinho de quero mais, com direito a corpo e mente renovados. Mas que coisa é essa que faz com que SL se torne tão irresistível? Um mistério realmente... Que tal tentarmos enumerar alguns elementos que podem contribuir para a descoberta desse “ingrediente secreto”?

O parque. Sim, o parque talvez seja o verdadeiro coração pulsante da cidade. Para alguns, trata-se apenas de mais um parque como tantos outros, mas para os mais sensíveis e entendidos, esse não é definitivamente um parque como tantos outros. Além de possuir uma grande beleza, embora parte dela tenha se perdido com o tempo em função da “força da grana que ergue e destrói coisas belas”, da indústria voraz das águas minerais, o poder de encantamento é muto forte e sedutor através de suas árvores, da mata, do lago, dos pássaros, de seus caminhos escondidos, dos miquinhos soltos, das águas de efeito curativo e de tantos outros elementos. Desafio alguém a conseguir sair de mau humor depois de apreciar tamanha paz e beleza. Se for capaz disso, melhor procurar um terapeuta urgentemente.


O lago que fica dentro do parque merece um capítulo à parte. Seu efeito terapêutico é um dos mais fortes que conheço. Deslizando através de suas águas no barco a remo, com direito a visitas muito bem-vindas de gansos, mergulhões e outros simpáticos animais, é impossível não ver seus problemas se dissiparem como um passe de mágica. Pensar sobre a vida ou mesmo meditar fica muito mais fácil no meio dessa imensidão de energia da natureza que emana de todas as partes, no meio desse paraíso, quando vc sente Deus mais perto do que nunca. Quem nunca se sentiu renovado também após fazer uma bela caminhada ou corrida em volta do lago? As melhores foram com meu saudoso avô. Bem que poderiam inventar uma forma de “portabilizar” esse lago para tê-lo pertinho de mim em momentos que tudo o que se quer na vida é paz e serenidade. Felicidade em último grau.

Para os jovens, a criançada e para aqueles que nunca deixam de ser crianças (me incluo nessa categoria) existem várias atividades também. Kart, paintball, patinação no gelo, banho de cachoeira, passeio de charrete e cavalo... À noite existem os pubs e bares da cidade que geralmente se renovam a cada estação. E quem reclama disso? Novidade nunca é demais. E lá aprendemos desde cedo que mais do que o local, o que faz a diferença são as pessoas. Quantos amigos queridos não fiz nos hotéis ao longo do anos...



Não precisávamos de muita coisa para nos divertir. Às vezes bastava um simples baralho, um jogo de damas, um ping-pong ou totó. Nos dias de sol, um volley ou um pólo aquático capenga. Quando não a boa e velha bocha, na pista dividida com os pais. Ou então inventávamos alguma brincadeira, incluindo o famoso e temido “jogo da verdade”. Mas gostávamos mesmo era de ir à noite para o “centro”, onde ficava o Mickey e outros bares, caminhando de forma totalmente despreocupada pelas ruas desertas e escuras, inclusive quando voltávamos de madrugada numa alegria só, coisa totalmente impensável para nós da cidade grande. Por essas e por outras sempre foi muito bom ser jovem em São Lourenço. Podíamos curtir a juventude em sua plenitude, sem maiores neuras ou preocupações. E o melhor, até hoje é assim.

Os rostos geralmente são muito familiares também, típico de uma cidade de interior. Aliás, a simpatia e o acolhimento dos moradores da cidade tornam ainda mais fascinante o local. Impossível entrar numa lojinha e não começar a travar uma conversinha gostosa com o vendedor sobre aquelas amenidades da vida que no fundo adoramos. O mesmo acontece nos hotéis e outros locais da cidade, onde desconhecidos rapidamente se tornam muito bem conhecidos e queridos.

As fazendas que circundam SL também são programas imperdíveis. A Fazenda Ramon, que também é hotel, possui um doce de leite divino que nunca provei em nenhum outro lugar. Desbravando seu caminhos, já me deparei com um intrigante touro, sem falar em sua cachoeira. Mas a atual “menina dos olhos” da cidade se chama Quinta do Cedro. Sem dúvida nenhuma um dos locais mais bonitos que já visitei na minha vida e olha que eu conheço um número razoável de lugares. É tudo tão bonito e bem cuidado que dá gosto. As crianças podem entrar em contato direto e alimentar avestruzes (adoro!!), patos, porcos, cavalos, dentre outros animais. A paisagem parece saída de um cartão-postal com direito a restaurante em anexo com música rústica típica do local, que ajuda ainda mais a criar esse clima de “mundinho-à-parte”, que você imagina que não existe mais nos dias de hoje.




 O passeio de “maria-fumaça” (imperdível!) que parte da Estação Ferroviária e percorre cidades vizinhas, indo até Baependi, também nos faz sentir como se estivéssemos nos tempos de nossos avós, quando o apito do trem suscitava uma série de emoções na cidade.



Bem, poderia continuar aqui discorrendo sem fim sobre as qualidades de São Lourenço, mas esse post já começa a ficar insuportavelmente longo... Com certeza não fiz justiça a todos os atrativos de SL, mas que seja ao menos uma apresentação, principalmente para os marinheiros de primeira viagem, que querem entender melhor a alma da cidade e não só seus pontos turísticos. Começo cada vez mais a acreditar na teoria da Eubiose que considera São Lourenço um dos principais pólos energéticos do planeta e por isso construiu um templo por lá. Será esse o tal do “ingrediente secreto”?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Amor sem escalas ou vida sem escalas? - sobre "mochilas" mais leves, solidão e companhia


No último fim-de-semana fui assistir “Amor Sem Escalas” (Up in the Air), com o galã e bom ator George Clooney (Ryan Bingham). A princípio achei que seria mais um filme-pipoca, ou seja, um belo passatempo sem maiores pretensões, que nos estimula a sair de casa pelo simples prazer de ir ao cinema. Um ritual que eu duvido muito que um dia se extinguirá, a despeito das más línguas desinformadas.

Mas eis que surge no telão um filme intrigante, com vários diálogos bem articulados e inteligentes, e o melhor: com um fino e irônico humor, raro nos filmes da atualidade. O filme inclusive tem um roteiro muito interessante e peculiar: Clooney é funcionário exemplar de uma empresa norte-americana especializada em demitir pessoas (sim, isso já existe, meus caros).

Sua profissão exige que ele passe mais dias de sua vida entre aviões, hotéis e aeroportos do que em terra firme, no seu lar em Omaha, que consiste em um mini-flat sem itens básicos para a sobrevivência, já que Clooney pouco fica lá. Possui também um objetivo de vida deveras inusitado: acumular 10 milhões de milhas aéreas, feito alcançado até então apenas por seis privilegiados. Não preciso nem comentar que ele é Cliente Premium dos principais programas de fidelidade.

Além disso, é um solteiro convicto, que pouco se importa com sua família que inclui irmã e sobrinha, e gosta de ressaltar os prazeres do desapego e do individualismo através de palestras motivacionais sobre como fazer uma mochila ficar o mais leve possível de forma física e conceitual. Aliás, esse é um ponto de destaque do filme, já que em tais palestras ele realiza interessantes comparações com a vida para convencer seus espectadores a deixarem para trás elementos supérfluos, que só deixariam suas malas mais pesadas em vão.

Defende o desapego em última instância para que a mochila e também a vida da pessoa fique mais leve e possa se “movimentar”, termo que ele utiliza várias vezes. Embora seja radical demais o modo como ele prega tal desapego, a verdade é que também boa parte do que ele diz faz muito sentido, se formos pensar de maneira prática.


Quantas vezes já não nos vimos carregando pesados fardos na nossa vida, por resignação ou hábito? Como é difícil às vezes nos livrarmos de certas manias e situações que não nos agregam em nada por mero comodismo ou porque todo ser humano não deixa de carregar consigo um certo grau de masoquismo, um certo prazer na auto-punição? Que tal uma meditação transcendental para refletir sobre como você pode deixar mais leve a sua “mochila”?

Depois de muitas reviravoltas interessantes no filme, que eu não vou contar para não ser apedrejada, mas que inclui a tal da descoberta do amor presente no título, já quase no final da “película” surge um grande desafio para Clooney. No dia do casamento de sua sobrinha, minutos antes da cerimônia, o noivo desiste de casar em função de uma repentina crise existencial.

Na sua crise, o noivo começa a questionar Clooney sobre o sentido do casamento, já que a vida que ele leva parece ser muito mais feliz e interessante do que a maioria das pessoas casadas que ele conhece. Qual seria o sentido em casar, manter um bom emprego, sair de forma rotineira nos finais de semana, ter filhos, sustentá-los, vê-los crescer e sair de casa, envelhecer, se aposentar e depois esperar a morte? (by the way, Osho adoraria essa sequência :)). Esses são alguns dos questionamentos do confuso, mas consciente noivo.

E quem é chamado pela mãe da garota para resolver essa intrincada questão?? Sim, meus queridos, o Super-Clooney, aquele solteiro convicto, desalmado, individualista, defensor do desapego total. E não é que ele se sai bem no papel? Embora produza no início da conversa alguns dos diálogos mais hilários do cinema.


Mas aí, para a surpresa de todos, Clooney salva a pátria com um insight genial e que serve de mote para uma reflexão que deve ser feita por todos: “Nas suas melhores lembranças, nos momentos mais importantes, você estava sozinho? A vida é melhor com companhia”. Depois disso, preciso contar o final? :)